No inicio de sua jornada, Carl era apenas um garoto como todos os outros garotos de Londres, podia brincar pelas ruas enquanto seu pai trabalhava na construção da ferrovia e sua mãe fazia bolos em casa, era o único filho do casal por isso era tratado como o ultimo ser vivo que poderia existir na terra. Sua mãe não gostara muito ter nascido um menino, porem a conformidade vinha com os grandes sorrisos inocentes de uma criança que não tinha culpa do fardo que lhe foi presenteado, o fardo de viver uma vida. Todos nós somos presenteados com este fardo, ninguém nos pergunta se nós queremos, é claro, que pergunta idiota, lógico que qualquer ser responderia sem pestanejar num uivo ululante - SIM! EU QUERO VIVER! - por mais cruel que seja a sua recém revelada oportunidade.
Carl era um nome pequeno, para uma pessoa pequena, que era rodeado de coisas pequenas, porem isto não era um problema pois na sua mente infantil, seu pai, era o maior homem do mundo, um herói, sua mãe era a pessoa mais doce, a forma humana dos anjos que só eram conhecidos pelos sermões das missas de domingo, e seu amigo Charlie era a única companhia que um garoto de 11 anos precisara.
A rua tinha um tom tão claro e tão irradiado que mais tarde pudera talvez até criar um sentimento de Nostalgia se lhe fosse dado tempo para pensar sobre a vida que o pobre vivera. Porem a vida não o deu tempo nem para respirar. Carl tinha que aprender muita coisa em muito pouco tempo, e o aprendizado não começou tarde.
O Herói
Edgard não parece o nome de um herói, porem ele era sim, Edgard, pai de Carl trabalhara na construção da ferrovia por cerca de 3 anos depois de seus pequenos empregos na cidade como caseiro do banqueiro e açougueiro na Heter&Heter, o trabalho na ferrovia parecia-lhe mais digno, o que mais um homem velho e cansado poderia procurar se não dignidade se a vida já havia o negado tudo, ele era triste por saber que seu filho seria o mesmo homem com os mesmos problemas e limitações que ele tinha.
Em junho daquele ano, ano em que seu Filho fizera 11 anos, as acontecera uma crise que afetaria toda Londres, havia pessoas desempregadas, a melhor maneira de se conter os gastos era se livrar da mão de obra. Edgard foi demitido do trabalho e voltara pra casa mais cedo aquele dia.
Carl viria mais uma cena que dali a pouco tempo talvez se tornasse nostálgica, pela primeira vez via o herói chegar em casa mais cedo, e foi correndo receber com festa e aplausos seu campeão, que vinha suado com as mangas arregaçadas e colete sobre o ombro numa posição de elegância bruta.
(?)
Carl pula em seu pai, Edgard, com uma expressão inigualável de alegria, mas Edgard acabara de perder seu emprego e lhe assombrava a situação, não fazia idéia de como sustentaria sua pequena, nem por isso menos significante família, e não tinha tempo para responder aos apelos comemorativos do filho, Edgard impulsionado pela sombra do fracasso, deu um tapa no rosto do menino.
O Garoto Carl paralisado não compreende o que ocorreu, o seu herói simplesmente se tornou um homem comum em um único instante, o pseudo-herói Edgard percebe lagrimas nos olhos do pequeno, assim como percebe a dimensão do que havia feito, não se da ao luxo de falar uma única palavra e entra para casa com seu coração calejado na mão e com um peso maior nas costas.
Carl demorou a entrar em casa aquele dia, ele estava chorando e tinha vergonha disto, porem sua mãe dentro de casa já sabia que ele estava chorando lá fora, e seu marido já havia contado o que havia acontecido porem, ela imóvel, não podia fazer nada nem por seu marido nem por seu filho, ao não ser observá-los.
O garoto entrou em casa, ficou em silencio por algumas horas, seu pai se dirigiu a ele com um nó na garganta, enquanto o pequeno ainda enxugava as lágrimas timidamente, seu pai, simples, nunca se deu bem com as palavras, mais é muito fácil falar com o coração, ele apenas apertou o pequeno contra o peito.
Num gesto de perdão inocente Carl corresponde ao abraço silencioso de seu pai. Carl cresceu aquele dia.
“Não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.” (William Shakespeare)